Cansada de tudo que começa. Hoje eu queria alguma coisa que continuasse.
sexta-feira, 4 de março de 2011
Me entrega...
Me entrega tuas mãos e eu te prometo através delas fazer surgir o caminho para nos conduzir, a estrada há tanto ansiada, pois ela já existia antes mesmo de nos darmos conta. O que hoje existe de nós e em nós nos é ancestral. Íngreme e escarpada é essa estrada, mas a única garantia é estar ao teu lado, independente de tudo aquilo que possamos encontrar no fim do caminho, o que quer que exista lá, nos encontrará de mãos dadas.
Me entrega teus sonhos e eu te prometo fazer deles, junto dos meus, algo tão real a ponto de tocá-los antes mesmo que eles sejam concretos, construção feita de asas, um tanto de medos e uma fé que não se mede nem se explica.
Me entrega teu corpo, meu vasto deserto, imenso e morno, porque todos os mistérios da minha vida inteira reúnem-se na extensão da tua pele, se materializam em cada poro teu, estendem-se diante de mim numa oferta irrecusável, pois acima e além de tudo o que possa ser o teu prazer e o meu, há todos os segredos que sintetizam o sentido do que me faz ser e estar.
Me entrega teu silêncio, tudo aquilo que sempre te pesou, para que juntos possamos libertar da própria clausura o que nos prendeu, o que há tanto nos faz prisioneiros do injustificável, do que hoje nos é inaceitável. Me entrega teu silêncio, pois longe do desconcerto, ele me conforta. Teu silêncio me acolhe em braços há muito esperados. Teu silêncio meu diz muito mais de você que todas as palavras que ensaias pra dizer e nunca dizes.
Me entrega teus medos, e ainda que eu não saiba o que fazer ao juntá-los aos meus, te prometo a coragem que só existe com a tua presença absurdamente necessária em todas as horas dos meus dias. Sem você, eu não teria dado sequer um passo na direção de tudo aquilo que foi capaz de modificar toda a minha existência, pois antes de ti, o que havia era uma sobrevida. Hoje, o que é pleno de sentido se confirma quando minhas mãos te tocam, quando meus olhos me vêem refletida nos teus, quando teu ar escapa dos teus pulmões para que eu respire melhor e viva, para você, por você, simplesmente porque o que existe de mim necessita de ti para resistir, porque não existe nenhuma saída para nós, não há qualquer vão pelo qual possamos escapar de nós, ainda que tenhamos tentado à exaustão. Nos fomos fatais, inescapáveis. Fomos um para o outro o que tínhamos que ser. E ainda somos. Seremos sempre. Corpo e alma. Pele, presença e amparo. Porto, escudo e descanso. Espelho e abismo onde atiramos toda a nossa pouca fé.
Me entrega tua vida, pois é somente com tudo aquilo que tens que conseguirei me reconstruir depois de me perder em ti, me desfragmentar em todos os pedaços que colhes nas tuas manhãs repletas da sequência de horas iguais, vazias de sentido sem que dos meus olhos retire a certeza da tua espera finda.
Me entrega teus olhos, de som e cor, que há muito fiz deles meus guias nas noites escuras, quando nada havia para me fazer voltar a crer além do brilho deles. Me entrega teus olhos para serem meus espelhos, para que os meus não tenham receios de te mostrar minha própria entrega absoluta. Me entrega teus olhos...para que por eles minha alma repleta de ti possa ser de nós o que realmente existe de maior.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário